A vida de cães e gatos refugiados de guerra
As cenas dos refugiados sírios a bordo de vulneráveis botes para escapar do horror do terrorismo e da guerra assustam, impressionam e expõem o naufrágio dos seres humanos em pleno século 21. Muitos se mobilizam para dar abrigo e comida a uma legião de pessoas que buscam uma vida digna, deixando para trás a dor da perda de parentes, amigos e animais de estimação.
Apesar dos riscos e da perigosa fuga pelas incertezas da travessia do mar Mediterrâneo, muitos refugiados se negam a deixar para trás cães e gatos como prova, em meio ao perigo, do amor e da fidelidade que têm pelos seus animais. Nas últimas semanas, alguns pets, assim como seus donos, também ganharam o foco das televisões do mundo inteiro, junto com seus donos para um destino incerto quando conseguem chegar às praias da Grécia.
Nas redes sociais, pipocam emociantes histórias de tutores e pets que sobreviveram às tormentas da travessia. É o caso de Johnny, um cão Sem Raça Definida (SRD), que acompanha seus donos numa longa caminhada, a pé, até a Alemanha, que já dura três meses.
Caminhada no carrinho de bebê
“Nós nunca poderíamos deixá-lo para trás”, relatou um casal de sírios à TV UNHCR-Skopje, que usa, de tempos em tempos, um carrinho de bebê para alinhar as patas do animal na viagem através da Bósnia e da Macedônia.
Na última semana, outro animal que ganhou espaço na internet foi o gato Zeytun, cujo nome em português quer dizer “azeitona”. O animal desembarcou há poucos dias com a sua família na ilha de Lesbos, na Grécia. Segundo noticiou a Ruptly, agência internacional de notícias, diversas pessoas conseguiram chegar com cães e gatos em Röszke, um campo de refugiados na Hungria.
“Apesar de todos os riscos e da situação extremamente complicada, estas famílias demonstraram um grande respeito e amor pelos seus animais de estimação”, comenta emocionada Rosangela Ribeiro, gerente de Programas Veterinários da World Animal Protection (WPA). Para ela, “o vínculo entre um tutor e seu fiel amigo deve ser para sempre, em qualquer situação”.
A especialista da WPA lembra que estes são seres extremamente vulneráveis. “O abandono é a pior e a mais cruel opção para eles”, salienta. Ela atenta que os animais da Síria enfrentam uma situação de risco, assim como as pessoas, podendo acabar feridos, sem abrigo ou alimento.
Dificuldades e prova de amor
Em outros casos, porém, os refugiados podem enfrentar dificuldades. Nem todos os campos e meios públicos de transportes, disponibilizados entre as fronteiras, permitem animais de estimação. A União Europeia também tem restrições para a entrada de cães e gatos de outros países. Eles devem ter as vacinas em dia e um aval veterinário, além de um certificado de saúde internacional, que precisa ser validado nos primeiros 10 dias desde a chegada.
A coragem e disposição para enfrentar todos estes empecilhos, como refugiados, é uma verdadeira prova de amor. “Eles demonstram, na prática, todo carinho e respeito que os animais merecem”, parabeniza a gerente de programas veterinários da World Animal Protection.
Rosangela Ribeiro espera que essas famílias, que cruzaram o mar Mediterrâneo com seus amigos de quatro patas, sirvam de exemplo para todos. “Eu nunca poderia deixá-lo na Síria, ele é meu bebê”, garantiu Ahmad com o seu cão Teddy, ao desembarcar na Grécia.
Com informações da WPA