Artigo alerta sobre riscos de ter animais silvestres dentro de casa
Por Benedito Fortes Arruda* - O tráfico de animais é a terceira maior atividade ilícita no mundo, superada apenas pelo tráfico de drogas e de armas. É o que aponta pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU) realizada em 2010. A ONU ainda revela que o valor do mercado mundial de tráfico de animais, considerado também a segunda maior causa de extinção de espécies, chega aos 20 bilhões de dólares anuais.
Já uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), em meados de 2010, aponta que 30% dos brasileiros têm ou já tiveram animais silvestres ou selvagens em casa. Ainda segundo o Ibope, papagaios, pássaros cantores e tartarugas estavam entre os animais mais vendidos pelo comércio ilegal.
Fugir do senso comum e manter em casa um pet menos convencional – como araras, macacos, cobras e outros répteis – traz riscos que muita gente desconhece. Para ter qualidade de vida, os animais silvestres precisam estar em seu habitat natural. Mantê-los em casa requer cuidados com alimentação, espaço, vacinação, acompanhamento médico veterinário, entre outras atenções, muitas delas mantidas a custos elevados. E todos esses cuidados nem sempre representam segurança para o criador. O próprio dono do animal pode se tornar vítima de seu pet silvestre. Um exemplo são os macacos que entram na puberdade aos 8 anos de idade e, mesmo domesticados, podem ficar agressivos. Além disso, podem transmitir viroses e doenças, como malária e febre amarela.
Assim, não é sem motivos que o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) aconselha a população a não adquirir nem transportar animais silvestres. Se o desejo é conhecê-los, recorra a visitas monitoradas comuns em reservas ambientais. Além de ser mais seguro para todos, pode ser um passeio divertido para a família.
No Brasil, a rota do tráfico tem origem nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e chega ao Sul e Sudeste, onde os animais costumam ser vendidos em feiras livres ou seguem para países da Europa e América do Norte. De acordo com a organização não-governamental Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Selvagens), as aves são as maiores vítimas, representando 82% do total de bichos traficados.
Embora não existam números fechados relativos ao tráfico de animais selvagens em todo o Brasil, pode-se afirmar que a prática ainda demanda especial atenção das autoridades. Parcerias entre as Polícias Federal e Rodoviária, Ibama, Infraero e diversas ONGs têm sido de extrema importância para desmontar a ação das quadrilhas. Essa união ganha reforço da Interpol – agência de polícia internacional -, que também coopera com o governo brasileiro para o combate ao tráfico.
Atento a seu papel de também zelar pela melhor qualidade de vida e equilíbrio entre o Homem e a Natureza, o próprio CFMV lançou a Campanha Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres em 2013. No portal do Conselho, estão disponíveis informações que visam conscientizar a sociedade, aumentar a visibilidade do problema e alertar sobre a gravidade das consequências
oriundas do tráfico.
*Benedito Fortes de Arruda é presidente do CFMV e médico veterinário