Métodos alternativos no ensino veterinário com mais espaço
Atualmente há uma demanda crescente da sociedade em relação a minimizar o sofrimento causado aos animais. Em sintonia com esses anseios, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) apoia o debate e a produção de métodos alternativos ao uso de animais no ensino.
Também chamados de métodos substitutivos, eles permitem o repasse de conhecimentos aos estudantes sem prejuízo à aprendizagem e sem comprometer o bem-estar e a saúde animal.
“A sociedade mundial se preocupa com o bem-estar animal, não só enquanto vida animal, como também sua utilização nas instituições de ensino. O estudante de Medicina Veterinária, utilizando de métodos alternativos, pode perfeitamente adquirir e desenvolver habilidades para futuras atividades profissionais”, afirma o presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária, Benedito Fortes de Arruda.
Um exemplo é a formação cirúrgica, que envolve complexos conceitos teóricos e práticos. Para garantir a aquisição das habilidades pelos alunos, diversos métodos alternativos têm sido desenvolvidos buscando cumprir a função educacional. Entre eles, a utilização de cadáveres preservados, o emprego de artefatos confeccionados a partir de espuma, látex e outros materiais sintéticos, manequins de resinas e peças de matadouros para o treino de suturas.
Além de reduzir o estresse, o uso desses materiais permite a maior quantidade de repetições de cada aula prática até que os alunos se sintam seguros para dar o próximo passo que é atender os animais que realmente necessitam do tratamento.
Segundo a presidente da Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal (Cebea) do CFMV, Carla Molento, antigamente, o ensino de técnica cirúrgica era feito em animais que nem sempre tinham necessidade de cirurgia. “Hoje tais práticas são inaceitáveis, uma vez que há possibilidades de ensino com métodos alternativos, como uso de modelos, de cadáveres eticamente obtidos e preservados”, explica Molento.
A médica veterinária lembra que a passagem pela vida universitária deve colaborar para a formação de cidadãos completos e profissionalmente competentes. “Além do efeito direto e severo aos animais utilizados, também havia um efeito indireto, que transmitia aos alunos a ideia de que os animais podem ser utilizados sem nenhuma consideração de seu sofrimento. Isto levava a uma perda na capacidade de sensibilização do futuro profissional”, afirma Molento.
Para o presidente da Comissão Nacional de Educação da Medicina Veterinária (CNEMV) do CFMV, Felipe Wouk, estimular a adoção de métodos alternativos é um desafio que precisa ser encarado pelas Universidades. “O retrato atual das instituições de ensino brasileiras é que a minoria possui formas e métodos alternativos bem estabelecidos para substituir o uso de animais no ensino. Todos os esforços feitos para mudar essa realidade terão uma repercussão enorme, melhorando a qualidade do profissional que sai da faculdade”, afirma Wouk.
O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, coordena os procedimentos de uso científico de animais para ensino e pesquisa.
O tema faz parte das discussões da Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal e da Comissão Nacional de Educação da Medicina Veterinária do CFMV.
“Junto com o Concea, Universidades e Conselhos Regionais, temos que passar da linha das reflexões para a ação”, afirma Wouk.
A adoção de métodos alternativos ao uso de animais no ensino difere da discussão ao uso de animais para pesquisa, definida pela busca de um conhecimento ainda em construção. No Brasil, a Lei Federal de Crimes Ambientais nº 9605/1998 proíbe a utilização de animais quando há métodos alternativos.
Atualmente existem 17 métodos alternativos ao uso de animais para pesquisa reconhecidos pelo Concea. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou uma norma que deve reduzir a necessidade do uso de animais em testes para pedidos de registro de medicamentos, cosméticos, produtos para a saúde, entre outros. As empresas serão obrigadas a abandonar o uso de animais para comprovação de eficácia e segurança dos seus produtos nos casos em que há métodos alternativos reconhecidos pelo Concea.