Diagnóstico precoce: arma para identificar câncer em cães e gatos
O aumento da expectativa de vida de cães e gatos traz uma preocupação a mais para os donos. Com o avanço da idade, os pets ficam mais expostos a uma série de patologias. Uma delas é o câncer, cujos casos vêm crescendo no país. Entre os mais comuns tipos estão o câncer de mama, de pele e linfomas. A castração e o diagnóstico precoce são as principais maneiras de identificar o problema.
“A melhor forma de combater o câncer é o diagnóstico precoce. Assim como na medicina humana, as chances de cura são muito mais altas se a doença for diagnosticada no início”, indica Simone Carvalho dos Santos Cunha, médica veterinária da Oncopet, clínica veterinária especializada na área de oncologia.
A Oncopet Veterinária é a primeira clínica no estado e uma das únicas do país a trabalhar com radioterapia para câncer em cães e gatos, além outros tipos de tratamento como cirurgia, quimioterapia e eletroquimioterapia.
Simone Cunha destaca que as visitas periódicas ao veterinário são indispensáveis para a identificação da doença, uma vez que os cães e gatos não costumam demostrar os sintomas. “As visitas devem incluir o exame clínico do animal, palpação das mamas, exames de sangue e imagem”, explica a médica veterinária especializada no uso de radioterapia para tratamento de gatos.
A senhora tem dados sobre a incidência de câncer, hoje, no Brasil?
Simone Carvalho dos Santos Cunha - No Brasil, há trabalhos isolados relatando a incidência de determinados tipos de câncer. Mas a maior parte dos dados vem de estudos amplos realizados em outros países. Em cães, a ocorrência de neoplasias é 381 casos em 100.000 cães, enquanto em gatos é de 155 em 100.000 gatos.
Quais são os tipos de câncer mais comuns?
Simone Carvalho dos Santos Cunha - Os tipos de câncer mais comuns em cães e gatos são os de mama, de pele (incluindo mastocitomas e carcinomas epidermóides) e linfomas.
O câncer de mama é considerado um dos principais. O que é possível fazer para prevenir este tipo mais comum?
Simone Carvalho dos Santos Cunha - Já foi provado que a castração precoce diminui muito a incidência de câncer de mama em animais. Para termos uma ideia, se a castração for realizada antes do primeiro cio (aos seis meses de idade) em cadelas, a chance de ter um câncer de mama no futuro é de menos de 1%. Após o segundo cio, essa chance aumenta para 8%, e após o terceiro, para 26%. Também, os anticoncepcionais veterinários podem aumentar as chances de desenvolver este tipo de câncer, e por isso devem ser evitados.
Como justificar a ocorrência dos mais variados tipos de câncer em cães e gatos?
Simone Carvalho dos Santos Cunha - A ocorrência de variados tipos de câncer em cães e gatos provavelmente se deve ao fato de a expectativa de vida deles estar aumentando consideravelmente nos últimos anos, devido aos maiores cuidados veterinários e medicina preventiva por parte dos donos. Assim, doenças comuns em animais idosos, incluindo câncer, insuficiência renal e cardíaca, dentre outras, são cada vez mais diagnosticadas na nossa rotina.
Existe algum tipo de raça de cão ou gato mais susceptível ao câncer?
Simone Carvalho dos Santos Cunha - Todos os animais são suscetíveis ao câncer, principalmente os mais idosos. No entanto, alguns tipos de câncer são mais frequentes em determinadas raças, como por exemplo, o Boxer e Buldogue (que têm alta incidência de mastocitoma), o Bernese (que tem alto risco de desenvolver tumores histiocíticos) e os Golden Retrievers (que frequentemente têm linfomas e sarcomas). Gatos siameses também têm maior risco de desenvolverem câncer de mama e um tipo de câncer de pele (mastocitoma). A cor da pelagem influencia no aparecimento de tumores de pele (animais de pelagem branca estão mais suscetíveis à radiação ultravioleta). E por fim, animais de grande porte (incluindo Rottweiller, Pastor alemão e Labrador) têm alta frequência de tumores ósseos.
Normalmente, como é hoje o tratamento para combater este mal?
Simone Carvalho dos Santos Cunha - Em veterinária, há várias modalidades de tratamento do câncer, incluindo cirurgia oncológica, quimioterapia, radioterapia, eletroquimioterapia, criocirurgia, dentre outras. O tipo de tratamento indicado varia com o tipo e localização do tumor. Por exemplo, para o controle local de um tumor, geralmente é indicada a cirurgia, associada ou não com radioterapia e/ou eletroquimioterapia. Já para evitar ou ajudar no controle de metástases (disseminação do câncer pelo organismo), a quimioterapia é indicada.
Mas a melhor forma de combater o câncer é o diagnóstico precoce. Assim como na medicina humana, as chances de cura são muito mais altas se a doença for diagnosticada no início. No entanto, os cães e gatos não costumam demonstrar sintomas, até que a doença se agrave e o dono perceba. Assim, visitas periódicas ao veterinário para medicina preventiva são muito importantes, e devem incluir o exame clínico do animal, palpação das mamas, exames de sangue e imagem.
O que levou a senhora a criar a Oncopet, uma clínica veterinária especializada no tratamento de animais com câncer?
Simone Carvalho dos Santos Cunha - O aumento do diagnóstico de diversos tipos de câncer nos últimos anos e a necessidade de um tratamento especializado me levaram a me especializar em oncologia e abrir a Oncopet Veterinária. Os donos de animais buscam cada vez mais alternativas de tratamento para, não só dar quantidade de vida, mas principalmente qualidade de vida para seus animais de estimação. Desde que me formei, eu trabalhei com medicina de felinos, e o câncer é extremamente comum em gatos, sendo parte da minha rotina. Em 2007, entrei para o mestrado na UFF (Universidade Federal Fluminense), estudando a radioterapia em gatos com câncer de pele. Em 2009, iniciei o doutorado com o mesmo tema. E atualmente, faço pós-doutorado na UFF, estudando o câncer de mama em gatas. Acredito que a medicina veterinária está evoluindo muito nas pesquisas em oncologia, que estão aprimorando cada vez mais os tratamentos e resultados obtidos.
Quais são os tipos de tratamentos oferecidos pela clínica?
Simone Carvalho dos Santos Cunha - Oferecemos os serviços de consulta oncológica, diagnóstico (através de biópsias e/ou citologias de massas tumorais), cirurgia oncológica (muitas vezes com uma patologista presente durante a cirurgia para auxiliar na retirada completa do câncer), quimioterapia, radioterapia, eletroquimioterapia (uma técnica que combina a aplicação de quimioterapia dentro do tumor com a aplicação de pulsos elétricos, fazendo com que a quimioterapia atue apenas no tumor, minimizando efeitos colaterais sistêmicos) e criocirurgia. Além disso, também oferecemos suporte paliativo para controle da dor e aumento de qualidade de vida do paciente.
Cirurgia, quimioterapia ou radioterapia. O que traz mais resultados para o tratamento?
Simone Carvalho dos Santos Cunha - Esses tratamentos têm propósitos diferentes. A cirurgia tem o objetivo de retirar rapidamente o câncer, sendo o tratamento mais indicado, já que fornece na maior parte das vezes o controle local da doença. A radioterapia tem indicação apenas quando a cirurgia não foi completa (restando células tumorais no local) ou não é possível (por exemplo massas muito grandes ou que estejam em localizações que comprometem a qualidade de vida do animal). Já a quimioterapia é indicada para tumores disseminados pelo organismo (como é o caso de linfomas ou metástases) ou quando a chance de metástases é muito alta, mesmo após a cirurgia completa. A principal diferença é que a radioterapia é um tratamento local (atua apenas em uma determinada região do corpo), enquanto a quimioterapia é um tratamento sistêmico (atua em todas as células em divisão no organismo).
A clínica é considerada referência no uso da radioterapia no país. Quais as vantagens e indicações para o seu uso?
Simone Carvalho dos Santos Cunha - A radioterapia tem sua melhor indicação após uma cirurgia incompleta, ou seja, quando há células tumorais presentes ainda em determinada região do animal. Como exemplo, temos sarcomas em geral, mastocitomas, melanomas, carcinomas, dentre vários outros. Também, é muito indicada para casos em que a doença não é operável, como por exemplo, tumores muito avançados (incluindo carcinoma epidermóide de gatos), tumores intranasais (linfomas e carcinomas) e tumores em cavidade oral (carcinomas, melanomas, etc.). Sua principal vantagem é que atua apenas em um determinado campo, sendo os efeitos colaterais restritos à região (queimadura), não causando enjoo e perda de apetite (comuns em quimioterapia).
Outro tipo de tratamento é a terapia multimodal? Como ela funciona e os resultados que traz?
Simone Carvalho dos Santos Cunha - Em alguns casos, a terapia multimodal (que une várias modalidades de tratamento) é indicada. Por exemplo, um câncer agressivo, que tanto cresce no local, mas também tende a fazer metástases e recorrências, deve ser tratado com cirurgia (associada ou não à radioterapia) e quimioterapia. Apesar de ser um tratamento intensivo e trabalhoso, os resultados são melhores, já que os tratamentos se complementam. Um fibrossarcoma de um gato, por exemplo, deve ser tratado desta forma. Se todos esses tratamentos forem realizados assim que o câncer é diagnosticado (no início da doença), as chances de cura são bem maiores.