Home Artigos Animal de estimação ou um filho?

Eles já não são mais simples donos de cachorros. Hoje, muitos proprietários de animais de estimação preferem chamar seus xodós de “filhos”. Os pets ganham guarda-roupa próprio, dormem na cama dos “pais”, ganham presente no Dia das Crianças — enfim, ocupam um espaço privilegiado na família.

Curiosa com essa relação construída com os bichos domésticos, uma equipe de pesquisadores do Hospital Geral de Massachussetts, nos Estados Unidos, decidiu investigar se, além do coração, o cérebro reconhece os cachorros como filhos de verdade.

Segundo Lori Palley, pesquisadoa do Centro de Medicina Comparativa do hospital e coautora do estudo, os animais domésticos ocupam um lugar especial no coração e nas vidas de muitas pessoas. “Há evidências convincentes de estudos clínicos e laboratoriais de que interagir com pets pode ser benéfico para o bem-estar físico, social e emocional dos humanos”, destaca a pesquisadora.

Companheiros fiéis

Ela lembra que a domesticação dos cães começou entre 18 mil e 32 mil anos atrás, e que a prática de dispensar cuidados paternais a eles é um comportamento comum em diferentes culturas, que provavelmente emergiu da necessidade evolutiva de tê-los como companheiros fiéis.

Nos Estados Unidos, cerca de dois terços dos lares americanos têm animais de estimação, e mais de US$ 50 bilhões são gastos anualmente com eles. No Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de cães chega a quase 55 milhões.

A médica revela que muitos estudos anteriores constataram que níveis de neuro-hormônios, como a oxitocina, envolvidos no processo de ligação emotiva e vínculo materno, aumentam depois da interação com os pets. “Novas tecnologias de imagem estão nos ajudando a começar a entender as bases neurobiológicas dessa relação, o que é bastante animador”, afirmou a pesquisa numa entrevista.

Metodologia da pesquisa

Para comparar os padrões de atividade cerebral envolvidos na relação humanos-pet e aqueles suscitados pela interação mãe-filho, o estudo recrutou um grupo de mulheres com pelo menos um filho de 2 a 10 anos e um cachorro que havia entrado para a família mais de dois anos antes do estudo.

A pesquisa foi dividida em duas sessões. Na primeira, as participantes receberam os cientistas em casa e completaram diversos questionários, incluindo perguntas sobre sua relação tanto com os filhos quanto com os cães. Os pets e as crianças foram fotografados na casa das voluntárias.

Na segunda fase, as participantes foram até o Centro de Imagens Biomédicas do Hospital Geral de Massachussetts, onde se submeteram ao exame de ressonância magnética funcional. Esse teste não invasivo indica os níveis de ativação de determinadas estruturas cerebrais, detectando alterações no fluxo sanguíneo e nas taxas de oxigenação.

Os cientistas mostraram uma sequência de fotografias enquanto as mulheres faziam o exame. As imagens incluíam os filhos das voluntárias e seus cachorros, alternados com retratos de crianças desconhecidas e cães pertencentes a outras pessoas.

Vínculo mãe-filho

No fim, cada participante completou algumas tarefas, incluindo um teste de reconhecimento de imagem, para confirmar se ela havia prestado atenção às fotos apresentadas durante o escaneamento. As mulheres também deram notas para diversas imagens mostradas durante a sessão em relação ao nível de prazer que essas fotos haviam despertado.

Os resultados revelaram semelhanças e diferenças na forma como importantes regiões cerebrais reagem à imagem de um filho e de um cão.

Áreas previamente associadas a funções como emoção, recompensa, afiliação, processamento visual e interação social tiveram aumento de atividade quando as participantes viram tanto as crianças quanto seus pets.

Porém, uma região implicada na formação do vínculo mãe-filho se ativou apenas em resposta à imagem da criança. Já o giro fusiforme, envolvido no reconhecimento facial e em outras funções de processamento visual, teve uma resposta mais expressiva quando as mulheres viam a foto de seus cachorros.

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